Mal o comunismo ruiu, aquele contra o qual tinha lutado toda a sua vida, João Paulo II começou a gritar que o grande inimigo da dignidade humana, que crescia a olhos vistos, era o capitalismo selvagem.
O que diria João Paulo II se fosse vivo e assistisse ao que se passou esta semana na América e no mundo da alta finança?
De repente, aqueles que do Estado apenas queriam distância e sempre o chutaram para longe das suas contas, colocando-as em locais tão angelicamente chamados de Paraísos Fiscais, porque os lucros das suas actividades não devem ser repartidas com a sociedade, porque a inteligência dos gestores, dos gurus, dos “Antónios Borges” da vida não é para ser posta ao serviço da sociedade.
De repente, os engravatados licenciados, pós-graduados em Harvard, os crânios da alta finança, os aldrabões que por fazerem bem o jogo sujo da especulação pela especulação, recebiam milhões de dólares de prémio, de repente tudo começa a ruir e a única hipótese de salvação do sistema reside, veja-se bem, no Estado, tendo o Governo Bush intervindo com injecções de triliões de capital, para salvar os especuladores.
Temos, então, que o Estado que até aqui era chutado pela alta finança, o Estado que amealhou graças ao cidadãos e empresas que honestamente colocaram na mão do Estado os impostos, vêm o Estado ir em socorro dos charlatães, dos especuladores, numa palavra, dos malandros que do dinheiro apenas conhecem uma face: a do ganho fácil.
Temos então, que, num País onde a solidariedade social praticamente não existe, o Estado tem uma atitude de auxílio, de caridade, de protecção….dos especuladores!
Faz-me lembrar aquelas casas em que o marido estoira o dinheiro todo que lhe é destinado, do orçamento familiar, na jogatina e, não satisfeito, vem a casa à gaveta, buscar dinheiro que estava destinado à mercearia para comprar a comida das crianças…
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