sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Globalisation oblige…

Sou de uma Terra onde o trabalho nas obras, juntamente com o emprego dado na Câmara Municipal, constituem a maior fonte de emprego e riqueza da população, a activa claro, porque a outra, claro, tem como patrão o Ministério da Solidariedade.

Ora, desde pequeno que me habituei a insultar, a chamar nomes, aos empreiteiros, sub-empreiteiros e outros “rateiras” afins, como chamamos àqueles pequenos empresários que saem de manhã, com a sua carrinha e três ou quatro empregados ainda jovens.

Sempre chamei nomes, porque deles se dizia muitas ou na maioria das vezes, que retinham os descontos “para a caixa” e, na hora de precisarem, os jovens quando se apercebiam, nem sequer estavam inscritos na segurança social.

Por isso, todos dizemos que é um crime e um crime hediondo, e corria lá na aldeia, de longe a longe, que fulano ou sicrano, coitado, precisou de baixa e não teve, porque não estavam lá os descontos.

Ao vir para a cidade, trabalhar em empresas já não de uma carrinha, mas sim de autocarros de gente, claro, ao ouvir falar de crise e sabendo dos problemas que existem, de longe a longe me interrogo, lembrando-me dos “rateiras” lá da Terra: “será que estão lá os meus descontos”?

Pergunto-me, porque é que os patrões dizem que precisam da ajuda do Estado, pomposamente dizem que têm dívidas ao Fisco e à Segurança Social…e ninguém lhes chama ladrões?

É que, nos dias que correm, a situação é de tal forma grave, a deflação é tal, que nas empresas industriais portuguesas já não só não se tem margem de lucro, na maioria do que se produz em Portugal, como já se está a entrar e a comer no custo, incluindo nos encargos sociais…até ficarmos ao nível dos parceiros asiáticos…Globalisation oblige!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

José Saramago, o catequista!

O homem, combalido, a meio de uma doença grave, altamente abalado fisicamente, amparado pela mulher e pelo editor, esse mesmo, aquele que ainda há pouco tempo tememos pudesse deixar esta vida, acaba de fazer mais pela divulgação da palavra que vem nos livros religiosos, nomeadamente a Bíblia, do que mil sermões de padres pelas igrejas abaixo.

Com efeito, ao lançar o seu mais recente livro “Cain”, lançou também uma bomba estrondosa ao chamar à Bíblia um “manual de maus costumes” e mais uma porrada de impropérios, contra um livro que, no mínimo, merece o respeito pela antiguidade que tem, consegue tirar a Igreja e os seus intelectuais, dos seus círculos fechados e intelectuais, para virem à rua discutir religião, como deve ser discutida, sem pré-conceitos.

Pessoalmente, acho que não passa de uma brilhante, mas de certa forma já gasta e pouco eficaz manobra publicitária o uso deste tipo de linguagem, mas agradeço ao Saramago, para além da sua enorme e brilhante criatividade literária, o favor que faz, de, de vez em quando, agitar as paradas e quase chocas águas, no que às matérias de religião e fé, dizem respeito e pôr-nos todos a pensar.

Portanto, apesar do exagero há que dizer: grande José Saramago!

sábado, 17 de outubro de 2009

Desemprego e estabilidade política

Esta semana assistimos ao início do que ficará para a história, como a segunda legislatura da era socrática, a primeira sem maioria absoluta e, por isso, prevêem os habituais analistas e prognosticadores nacionais, tudo aponta para que mais curta.

Depois das últimas investidas do presidente da República contra o “partido do Governo”, fácil será compreender o porquê deste tipo de prognóstico, acontece porém, que é preciso que do outro lado, do lado do “partido do Presidente” esteja uma estrutura pronta a ganhar eleições, o que não me parece possa demorara apenas dois anos a construir, nos escombros do ferreiraleitismo.

Resta então o Parlamento para querer deitar abaixo a estrutura actual e recentemente constituida, mas isso, convenhamos, numa época de tanto desemprego…qual é o deputado que quer abdicar, por vontade própria, de um emprego garantido por quatro anos, em favor de uma incerta eleição não se sabe por quantos?

Cá está uma vantagem da elevada taxa de desemprego: um contributo decisivo para a tão desejada estabilidade.